Os fatores de risco que podem
causar LERDORT são divididos em três grupos:
biomecânicos, organizacionais e
psicossociais1.
Apesar destas lesões serem
relacionadas com as condições de trabalho, mesmo quando realizam as mesmas
atividades nas mesmas condições, alguns trabalhadores desenvolvem e outros não2; 3. Por isso, considera-se
que a LERDORT é causada pela interação de fatores, sendo portanto, multifatorial3; 4; 5; 6. Além dos fatores relacionados
ao trabalho, há participação de outras atividades extra-laborais (fora do trabalho), como por exemplo,
fatores da lida doméstica, jardinagem, trabalhos manuais, tricôt e modelagem.
Isso
dificulta tanto consolidar o diagnóstico como a relação com o trabalho7, e causa situações
conflituosas para o trabalhador na empresa, na família, na sociedade e órgãos
governamentais responsáveis8.
Fatores Biomecânico
Biomecânicos e ergonômicos são
os fatores relacionados à posição e movimento do corpo humano dentro do
ambiente de trabalho: a temperatura ambiente, vibração, exposição a traumas,
posição das articulações, postura do corpo, intensidade de força, movimentos
repetitivos2; 3; 4; 9.
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Por exemplo, a digitação por tempo prolongado causa
fadiga. A tendência é largar os braços sobre a mesa para aliviar a fadiga,
deixando as articulações, principalmente do punho, em posições inadequadas, por
tempo prolongado e exigindo mais força para realizar a mesma atividade. Nesta
situação, há o risco de causar compressão nos tendões8; 10.
Estes fatores atuam de maneira
que um pode potencializar o outro e devem ser considerados conforme a duração,
intensidade e freqüência de cada fator de risco na jornada de trabalho3; 6; 11.
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A
duração prolongada de uma tarefa com sobrecarga
estática ( contração muscular sustentada ) leva a fadiga muscular
localizada ou generalizada. Quanto mais longo o período de sobrecarga
estática, mais longo será o período de recuperação muscular (
período de repouso muscular necessário para que o músculo se recupere após o
esforço ) .Por isso, pequenas pausas na rotina de trabalho ajudam a reduzir
os efeitos da duração da exposição3.
A
intensidade de força necessária para a realização da
tarefa deve ser avaliada tanto com relação à quantidade quanto à qualidade de
força aplicada. Neste ponto, é importante observar o grau de desvio de postura
e a pressão aplicada por superfície 3.
A
freqüência com que a tarefa é executada ( o número
de repetições da tarefa na unidade de tempo ) também tem influencia na recuperação
muscular. Atividades com alta freqüência não permitem a recuperação
muscular3.
A
repetitividade da tarefa é o fator habitualmente mais referido9, principalmente quando associado a
posturas inadequadas, trabalho muscular estático e/ou com aplicação de forças
excessivas 12.
Estes fatores biomecânicos ainda
são influenciados por fatores individuais, como idade, tipo físico, aptidão
física e gênero13.
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O processo de envelhecimento se inicia entre 30 e 40 anos de idade,
acelerando-se a partir dos 50 anos. Observa-se uma degradação progressiva da
função cardiovascular, força muscular, flexibilidade das articulações, dos
órgãos do sentido e das funções cerebrais. A psicomotricidade e os movimentos
tornam-se mais lentos com a idade, prejudicando o tempo de reação. Isso
dificulta o desempenho de tarefas mais complexas, que demandam capacidade de
discriminação entre vários entre vários estímulos diferentes. Por isso, alguns
autores documentam que os sintomas osteomusculares predominam acima dos 30 anos
de idade4.
Ainda
com relação à idade, observa-se que pessoas que iniciam sua vida profissional
precocemente, entre 5 e 15 anos de idade, têm maior risco para o
desenvolvimento de LERDORT2.
A aptidão
física é definida como a capacidade de realizar e manter as atividades
diárias. Também está associada à tendência de baixo risco ao desenvolvimento
prematuro de doenças e restrição de movimentos.14
A maior incidência no sexo feminino é justificada por questões
hormonais, dupla jornada de trabalho, falta de preparo muscular para
determinadas tarefas e também pelo aumento do número de mulheres no mercado de
trabalho9; 15.
Organizacionais
Os fatores organizacionais são
aqueles relacionados ao processo de trabalho, como a duração da jornada, as
horas extras, ausência de pausas, falta de rotatividade de tarefas, ritmo de
produção acelerado, exigência de produtividade, mecanização do processo de
produção e informatização das áreas de serviço, redução do quadro de
funcionários sobrecarregando os demais, dificuldade de comunicação, falta de
informação sobre os processos de trabalho, hierarquia e relacionamento entre a
chefia, funcionários e supervisões5; 6; 16.
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Observa-se que a LERDORT é mais
freqüente nos trabalhadores braçais e com baixa escolaridade.4
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As influências da economia do mundo
globalizado interferem tanto no
trabalhador como na
empresa, conforme os pontos vulneráveis de cada indivíduo e de cada empresa,3 seja no setor
privado ou no setor público.
Setor privado
Atualmente, o setor privado é
regido pelas estratégias de racionalização, que é um modelo da administração
científica que prioriza tarefas simples e rápidas, para aumentar a produção, em
tempo mais curto com redução dos gastos. Esta modificação do sistema de trabalho para otimizar o processo de produção
pode ser feita através da mecanização da produção, informatização dos serviços,
implementação de novas tecnologias ou gestões empresariais.
No entanto, em todas as
estratégias de racionalização, observa-se que o trabalho é intensificado. Isso
repercute no comportamento dos trabalhadores, na antecipação, durante e após a
instalação da racionalização, sobretudo pelo sentimento de insegurança em
relação ao futuro16.
Setor público
Em relação ao serviço
público no Brasil, alguns autores se reportam a “patologia organizacional”.
Observa-se a “desmotivação” do servidor e a precariedade das condições de
trabalho, com equipamentos insuficientes e inadequados, espaços mal desenhados
e práticas gerenciais distantes da realidade. Também é importante lembrar que,
assim como o setor privado, o setor público também tem sido submetido a
diferentes formas de racionalização do sistema de produção e intensificação do
trabalho, além da pressão, por parte dos cidadãos mais conscientes de seus
direitos e impacientes com a ineficiência do funcionamento dos serviços17; 18.
Psicossociais
É importante considerar que o
trabalho não é somente a execução de atividades produtivas, mas também um
espaço de convivência.19. Através do trabalho, o
ser humano busca seu sustento, satisfação, valorização, realização e
reconhecimento, não somente na organização, mas na sociedade. Além disso,
proporciona aprendizagem e autonomia6; 20; 21; 22.
O trabalho tem importância
fundamental na qualidade de vida
do individuo. Isso é influenciado pela suas expectativas quanto à carreira, as
exigências do empregador, suporte social no trabalho, satisfação com o
trabalho, suas experiências anteriores de trabalho, bem como às características
de sua personalidade e seus valores culturais6; 7; 23; 24.
A experiência mostra que os
fatores sócio-econômicos fora do ambiente de trabalho, como ameaça de
desemprego, baixa renda familiar, acesso a benefícios compensatórios e ameaça à
aposentadoria, interagem com as demandas do processo de trabalho e com os
fatores individuais3.
Outros fatores de risco
psicológicos são o sentimento de menos valia, insegurança em relação ao futuro,
inconformismo, incertezas, que podem estar associados a comportamentos de
passividade, resignação e expectativa de uma solução capaz de lhes salvar da
doença, da incapacidade e da dor crônica6. A insegurança em
relação ao futuro e da demissão é outro fator de risco16.
Saiba mais...
O papel do trabalho na vida do
indivíduo
Segundo
Freud, a felicidade está no ato de amar e trabalhar. O trabalho não é somente a
execução de atividades produtivas, mas é também um espaço de convivência, com
aspectos relacionados ao mundo social, à saúde e ao mundo subjetivo (referentes à pessoa
como sujeito ou referente ao espírito), como à construção do ego (núcleo da
personalidade do indivíduo) e da auto-estima
(apreço ou valorização que a pessoa confere a si
mesma, permitindo-lhe ter confiança nos próprios atos e pensamentos)19.
O trabalho tem importância fundamental na vida do
individuo. Pelo trabalho, se consegue sustento, satisfação, valorização,
realização e reconhecimento, não somente na organização, mas na sociedade. Além
disso, proporciona aprendizagem e autonomia6; 20; 21; 22.
Observa-se que o estilo de vida de uma pessoa é
constantemente influenciado pelo seu contexto, isso inclui as condições
familiares, profissionais, sociais, econômicas e políticas do ambiente em que
vive6; 25.
A relação afetiva que o indivíduo
desenvolve com o trabalho é muito importante26. Observa-se maior
propensão ao desenvolvimento de LERDORT em trabalhadores insatisfeitos6 e com menor escolaridade4.
Prevenção e Avaliação de risco
Na
literatura, estão disponíveis instrumentos de várois avaliação de risco.
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indústria metalúrgica de Canoas - Rio Grande do Sul. SILVEIRA e E. Rio
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5 MACIEL, R. Quem se beneficia dos
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7 INSS. INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS.
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Rev. online Bibl. Prof. Joel Martins. 2: 47-58 p. 2001.
9 SANTOS, A. Impacto na qualidade
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