Para a adequada
promoção de saúde, são importantes, além das ações diretamente relacionadas às
intervenções médicas, fatores comportamentais, ambiente sócio-econômico,
influências culturais, relacionamentos interpessoais e as referências históricas.
Ao conjunto disso tudo, convencionou-se chamar de estilo de vida. (Candeias,
abril, 1997) As principais ações de prevenção e controle das doenças
ocupacionais propostas pelo Ministério da Saúde levam em conta a possibilidade
da promoção da saúde no ambientes de trabalho, determinando as condições de
risco, a caracterização e a quantificação destes. Deve, portanto abranger o
trabalhador, a empresa, os órgãos públicos, o mercado informal e as
instituições de ensino. (Picoloto e Silveira, 2008; Santos, Bredemeier et al., 2011)
As doenças
relacionadas ao trabalho podem ser causadas pelo processo de produção e pela
organização do trabalho (Santos e Mattos, 2010). Os fatores de risco ambientais
são relacionados às circunstâncias sociais, políticas, econômicas,
organizacionais e reguladoras, relacionadas ao comportamento humano e àquelas
forças da dinâmica social. Neste âmbito, a engenharia do meio ambiente se
direciona a proteção em saúde e a administração no ambiente
médico aos serviços de
prevenção para a saúde. (Candeias, abril, 1997) No entanto, como a maioria
dos ambientes de trabalho são inadequados, as empresas pagam adicionais de
insalubridade e periculosidade aos funcionários e investem em equipamentos de
proteção individual. No entanto, a prevenção mais eficaz são as medidas de
proteção coletiva e adequação do ambiente de trabalho. (Verthein e
Minayo-Gomez, 2000) Ainda mais quando se considerada a dificuldade de se chegar
a um diagnóstico e confirmar a relação da doença com o trabalho, o melhor
tratamento é a prevenção, (Santos, 2009)
A prevenção tem
baixo custo, sobretudo quando comparada com os alto custos dos exames
diagnósticos e da assistência médica, bem como do presenteísmo ( trabalhador
presente no trabalho porém com produtividade reduzida ). É necessário que as
instituições de ensino e pesquisa demonstrem esta relação custo-benefício. As
medidas preventivas devem ser associadas às políticas públicas e privadas para
alcançar abrangência e efetividade na redução de casos novos. (Santos, 2009)
PREVENÇÃO
As medidas de
prevenção focadas no trabalhador, individualmente, tentando aumentar sua
capacidade de lidar com situações externas adversas é reconhecidamente, pouco
efetiva. Deve ser, portanto, complementar. (Inss, 2003; Azambuja e Viana, 2006)
Observa-se que melhores resultados são obtidos quando são identificados qual
dos fatores de risco atua a maior parte do tempo na maior parte dos
trabalhadores e as ações são direcionadas a eles, bem como a forma de execução
das tarefas. (Inss, 2003; Azambuja e Viana, 2006) .
É importante
quantificar o grau de exposição aos fatores de risco ergonômicos (duração,
intensidade e freqüência). Pesquisas tentam identificar o número de movimentos
que o trabalhador pode fazer por minuto sem o risco de sobrecarga, considerando
ainda a pausa como fator de recuperação. (Azambuja e Viana, 2006) Estas
estratégias de prevenção individual devem ser elaboradas a partir da analise
integrada da equipe técnica e dos trabalhadores, considerando o saber de ambos
os lados. (Inss, 2003) A idéia é estabelecer os critérios de exposição máxima a
qual a maioria dos trabalhadores possa ser exposta sem desenvolver lesões, e
baseado nisso, iniciar modificações ergonômicas no trabalho. (Azambuja e Viana,
2006) Há parâmetros estabelecidos pela norma regulamentadora (NR 17) para auxiliar a adaptação das condições
de trabalho (a norma refere-se às normas de
produção, exigência de tempo, determinação do conteúdo do tempo e ritmo de
trabalho e conteúdo das tarefas. No
item 17.6.3. da NR 17, para as atividades que exijam sobrecarga muscular
estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e
inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, estabelece inclusão
de pausas para descanso. Para as atividades de processamento de dados,
estabelece número máximo de toques reais por hora trabalhada, o limite máximo
de cinco horas por jornada para o efetivo trabalho de entrada de dados, pausas
de dez minutos para cada cinqüenta minutos trabalhados e retorno gradativo à
exigência de produção em relação ao número de toques nos casos de afastamento
do trabalho por quinze dias ou mais) (Inss, 2003)
PREVENÇÃO PRIMÁRIA ORGANIZACIONAL
Atualmente,
muitas empresas utilizam estratégias de racionalização para sua gestão. De uma
forma geral, estas estratégias têm grande risco de ter influência negativa em
relação às doenças relacionadas ao trabalho, tanto mentais quanto músculo
esqueléticas. (Westgaard e Winkel, 2011) Em geral, as empresas que tinham
gestões com transparências, idéias claras, diálogo e preocupação com
trabalhadores e suporte organizacional tiveram influência positiva em relação a
saúde do trabalhador. Sobretudo quando houve participação ativa do trabalhador
nas decisões relacionadas ao processo de trabalho. A presença do supervisor foi
avaliada como negativa, sugerida a descentralização das decisões, a autonomia
do grupo e desenvolvimento de suporte social, com valorização dos aspectos
sociais e culturais da região. (Westgaard e Winkel, 2011)
GINÁSTICA LABORAL
A ginástica
laboral é um dos programas implementados pelas empresas vinculado à visão de
melhor qualidade de vida, sendo direcionada para os empregados e empregadores.
Do ponto de vista dos funcionários, é direcionada para amenizar os efeitos do
mau uso da tecnologia, melhorar a postura e os movimentos executados durante o
trabalho, e conseqüentemente, o aumento da resistência à fadiga central e
periférica, promoção do bem estar geral, combate ao sedentarismo e diminuição
do estresse relacionado ao trabalho. (Mendes e Leite, 2004) .
Para as empresas,
os objetivos da ginástica laboral seriam a redução de acidentes, do absenteísmo
e da rotatividade, melhora da qualidade total bem como prevenção e reabilitação
das LERDORT. (Mendes e Leite, 2004) É considerada um recurso eficaz na prevenção
de doenças relacionadas ao trabalho, promoção de saúde e melhora da qualidade
de vida do trabalhador. (Sampaio, 2008) Observam-se ainda efeitos na prevenção
de LERDORT, com resultados mais rápidos e diretos, melhora o relacionamento
interpessoal e alivia as dores corporais. (Oliveira, 2006; Sampaio, 2008) Deve
ser incluída de forma regular no expediente de trabalho, com freqüência diária,
haja vista que são necessários períodos mais longos para promover efetivamente
as adaptações musculares. A associação da Ginástica Laboral com abordagens
ergonômicas também potencializa os resultados. (Mendes e Leite, 2004)
Evidências
confirmam redução dos casos de LERDORT e alívio das dores, bem como mudança de
estilo de vida, no período compreendido entre três meses a um ano após
implantação da ginástica laboral, traduzidos em redução dos custos com
assistência médica, melhora da ergonomia, diminuição das faltas e aumento da produtividade.
(Sampaio, 2008) As pausas ativas da ginástica laboral aumentam a execução de
tarefas. (Mendes e Leite, 2004)
A ginástica
laboral é classificada de diversas maneiras. Podemos organizá-las em:
preparatória, compensatória, de relaxamento e corretiva. (Sampaio, 2008)
Ginástica laboral preparatória: exercícios realizados antes da jornada de
trabalho para preparar o indivíduo para iniciar o processo de trabalho, podendo
ser direcionada aos grupos musculares solicitados. Inclui exercícios de
coordenação, equilíbrio, concentração, flexibilidade e resistência muscular.
(Maciel, 2005; Oliveira, 2006; Sampaio, 2008)
Ginástica compensatória: São praticados durante ou após o
expediente, com duração de 5 a 10 minutos. Seu objetivo é aliviar as
tensões musculares decorrente do uso excessivo ou inadequado das estruturas
músculo-esquelética e melhorar a circulação. São sugeridos exercícios de
alongamento e flexibilidade, respiratórios e posturais. (Maciel, 2005; Sampaio,
2008)
Ginástica laboral de relaxamento: são exercícios aplicados ao fim do
expediente, com duração de 10 a 12 minutos, visando o relaxamento
muscular e mental, redução de estresse e alívio de tensão. São realizados
auto-massagem, exercícios de alongamento, flexibilidade e meditação. Mais
comumente indicados para trabalhos com excesso de carga horária ou em serviços
de cunho intelectual. (Maciel, 2005; Oliveira, 2006; Sampaio, 2008)
Ainda podemos classificá-la quanto ao
objetivo:
Ginástica de Compensação : exercícios desenvolvidos dentro do
próprio setor ou ambiente de trabalho para evitar vícios posturais, fadiga,
posturas extremas, estáticas ou unilaterais. São realizados movimentos
simétricos de alongamento dentro do próprio setor ou ambiente de trabalho entre
5 a 10 minutos.
Ginástica laboral corretiva: atua tentando estabelecer o equilíbrio
entre agonista e antagonismo muscular, fortalecendo os músculos fracos e
alongando os músculos encurtados. Dura de 10 a 12 minutos. É usada para trabalhar
grupos específicos dentro da empresa, em conjunto com a equipe de saúde
(Maciel, 2005; Sampaio, 2008)
Ginástica Terapêutica: indicada para tratamento de distúrbios e
patologias de funcionários avaliados previamente e separados por diagnóstico
médico. Visa atuar em casos mais graves de lesões com limitações ergonômicas. É
realizada em um local apropriado e não no local de trabalho. Sua duração pode
chegar a 30 minutos. (Maciel, 2005)
Ginástica de Manutenção ou Conservação: programa de continuidade após obtenção do
equilíbrio muscular alcançado pelas técnicas corretivas ou terapêuticas citadas.
Pode evoluir para um programa de condicionamento físico aeróbico associado a
reforço muscular e alongamentos. Nesse caso é necessário que a empresa disponha
de sala especial para o treinamento para que o funcionário possa utilizar seus
horários de folga com duração de 45 a 90 minutos. (Maciel, 2005)
ERGONOMIA
A ergonomia
avalia as condições e os ambientes de trabalho para propor e implementar
soluções técnicas, relacionadas a mudanças nos equipamentos e ambientes
físicos. (Maciel, 2005)
PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE
Nos Estados
Unidos, são desenvolvidos programas governamentais e comunitários de inventivo
a prática de atividade física e recreativa, visando prevenção de doenças
degenerativas, hipertensão arterial, diabetes e redução de estresse. Entre
estas intervenções, estão ações direcionadas para o ambiente de trabalho.
Programas semelhantes são desenvolvidos em outros países, estimulando a
mudanças de estilo de vida e aquisição de hábitos mais saudáveis. (Maciel,
2005)
Há estudos que
evidenciam que não há diferenças estatisticamente significativas entre as ações
educativas pautadas nas orientações gerais sobre a saúde e orientações
específicas para prevenção de LERDORT. (Dortch e Trombly, 1990)
REFERÊNCIAS
Schmidt, M.I; Giugliani, E.R.J., 2006. Cap.136. p.
1239-51.
CANDEIAS,
N. Conceitos de educação e de promoção em saúde: mudanças individuais e
mudanças organizacionais. Rev Saúde
Pública. v.
31(2)abril, 1997. p. 209-13.
SANTOS,
A. Impacto na qualidade de
vida de um programa educacional para prevenção de distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (LERDORT). (2009). 97 f . (doutorado) - Ciências Médicas, UFRGS, Porto Alegre, 2009.
SANTOS,
A. C. et al. Impact on the Quality of Life of an
Educational Program for the Prevention of Work-Related Musculoskeletal
Disorders: a randomized controlled trial. BMC Public Health [S.I.], v. 11, p. 60, 2011.
VERTHEIN,
M.; MINAYO-GOMEZ, C. A construção do "sujeito-doente" em LER. v. 7.
n. 2. Rio
de Janeiro: Hist. cienc. saude-Manguinhos, 2000.
WESTGAARD, R. H.; WINKEL, J.
Occupational musculoskeletal and mental health: Significance of rationalization
and opportunities to create sustainable production systems - A systematic
review. Appl Ergon [S.I.], v. 42, n. 2, p. 261-96, Jan 2011.
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